Alquimia

Figura 1 – Representação de um alquimista em seu local de trabalho. Fonte: How Stuff Works.

A alquimia é muitas vezes considerada como uma área que precedeu a química, pois ainda que existam diferenças entre as duas áreas, são frequentemente associadas às contribuições dos estudos alquímicos para o desenvolvimento da química.

A primeira referência histórica relacionada à alquimia data de 300 a.C., em um decreto do Imperador romano Diocleciano em que foi ordenada a destruição de escritos egípcios sobre a khemia do ouro e prata. Khemia é o termo que origina a palavra alquimia e designa uma arte praticada no antigo Egito de fabricar ouro e prata. Porém, não é possível apontar com precisão quando e onde surgiu a prática da alquimia, pois há relatos não apenas do Egito, mas também na China, Índia, Itália, Grécia e outros países europeus.

O principal objetivo dos alquimistas era encontrar a pedra filosofal, substância capaz de transmutar metais e produzir o elixir da longa vida. Com isso, eles poderiam transformar metais menos nobres em ouro, curar diversas doenças através do elixir e prolongar o tempo de vida do homem.

No entanto, a questão que permanece em aberto é se a alquimia pode ou não ser considerada uma ciência. É importante lembrar que a alquimia foi praticada em diversos países de diferentes maneiras e devido aos aspectos culturais de cada país ela apresenta distintas definições, sendo vista por muitos como uma ciência, por outros como uma representação filosófica que discutia aspectos sobre a vida e há alguns que a consideram como parte da psicologia. Podemos citar, como exemplo, a análise filosófica da alquimia que considerava a purificação dos metais como uma analogia referente à purificação interna do ser humano.

De qualquer forma, não podemos desconsiderar as muitas contribuições que a alquimia trouxe para a química que conhecemos atualmente. Através do conhecimento acumulado e adquirido da alquimia, muitas teorias foram refutadas e alguns estudos foram aperfeiçoados, sendo possível entender como a química foi se moldando no decorrer dos anos. É possível considerar a descoberta do fogo, por exemplo, como uma das primeiras transformações realizadas pelo homem de que se tem relato, o que contribuiu e muito para o desenvolvimento humano e, também, para o domínio de novas técnicas de fabricação de diversos utensílios. Através disso os alquimistas foram capazes de desenvolver vários utensílios como fornalhas especiais e vidrarias para realizar as reações químicas. É também creditado aos alquimistas a descoberta de algumas substâncias como o ácido acético e o ácido clorídrico. (UNESP, 2011).

Uma das importantes contribuições para a alquimia, que consequentemente contribuiu para o desenvolvimento da química, foi  dada pelo alquimista europeu Andreas Libavius que apresentou em seu livro, Alchemia, detalhes sobre as técnicas de preparação de substâncias médicas e, além disso, representou utensílios utilizados nos diferentes processos efetuados por ele na época de forma clara e objetiva, diferente de outros registros de alquimistas, como mostra a figura a seguir.

Figura 2 – Utensílios utilizados pelo alquimista Andreas Libavius. Fonte: Unesp.

Os utensílios indicados pelos números 1 e 2 são representações de fornos utilizados pelo alquimista, os indicados pelos números 7 e 8 representam vasos utilizados para análises e agitação, já os utensílios indicados pelos números 9, 10 e 11 eram utilizados para a realização de processos como decantação, filtração e como um arranjo para putrefação, respectivamente.

A maioria dos registros de alquimistas eram escritos utilizando uma simbologia que restringia o conteúdo apresentado nos textos impedindo que pessoas não iniciadas compreendessem os aspectos discutidos. Os alquimistas utilizavam signos e símbolos para desenvolver essa forma de comunicação, que apesar dos metais ouro, prata, cobre, ferro, mercúrio, chumbo e estanho possuía pouca uniformidade. Geralmente os alquimistas associavam os materiais e cada fase de seus trabalhos, formas e imagens que lhe eram familiares como forma de economizar  tempo e, claro, confundir os que não eram adeptos.

Os metais apresentavam sinais associados aos planetas devido a uma relação astrológica e os quatro elementos, água, ar, terra e fogo essências da matéria segundo a Teoria dos Quatro Elementos, criada no século V pelo filósofo grego Empédocles também apresentavam suas representações por símbolos, como mostra a figura 2. Essa teoria afirmava que existiam quatro componentes básicos no universo, sendo que cada um possuía duas das quatro propriedades fundamentais: quente, frio, seco e úmido. Esse estudo foi aceito por Aristóteles e muito difundido nos trabalhos dos alquimistas, juntamente com os estudos sobre enxofre e o mercúrio.

Figura 3 – Representação Alquímica. Fonte: Carvalho, 2012.

Além disso, os artesãos, que também possuíam sua representação alquímica, frequentemente nomeavam novas substâncias descobertas de acordo com as características sensoriais, sendo que a cor  das substâncias era a mais utilizada. Os egípcios, por exemplo, utilizavam palavras como “hetch” quando estavam se referindo a cor branca para a prata e a palavra “vatch” quando se referiam a cor verde para a malaquita.

Apesar disso, com o tempo e com o desenvolvimento da química que conhecemos atualmente, a representação alquímica tornou-se extinta. Dessa forma, viu-se a necessidade da implementação de uma linguagem que fosse de fácil compreensão para todos, buscando uma forma de disseminar o conhecimento adquirido.

Durante os séculos XVII e XVIII a química possuía, ainda, muita influência da alquimia, sendo que a química como ciência se afirmou apenas após a publicação dos trabalhos de Lavoisier. Houve, também, outros cientistas que antecederam Lavoisier que contribuíram para a consolidação da química, em que já era possível observar a presença de experimentação controlada e uso de raciocínio indutivo (característicos de uma ciência moderna), mas também havia a presença de pensamentos típicos de alquimistas.

Robert Boyle (1627-1691), químico inglês, considerado como sendo o último alquimista, foi contra a teoria apoiada por Aristóteles sobre os Quatro Elementos, apontando incoerências existentes nos trabalhos de alguns alquimistas. O trabalho deste cientista foi de grande importância para o desenvolvimento da química moderna devido à análise sistemática dos dados e do uso da experimentação nos seus estudos.

O médico e químico inglês George Ernst Stahl (1659-1734) desenvolveu a Teoria do Flogisto, em que afirmava que quando uma substância é queimada ela perde o flogisto, que é um material invisível. Essa teoria foi proposta, pois os alquimistas observavam que havia uma perda de massa durante a combustão de alguma substância. A Teoria do Flogisto foi aceita por mais de 80 anos, sendo refutada apenas com a publicação dos trabalhos de Lavoisier.

Stephen Hales (1677 – 1761), Henry Cavendish (1731 – 1810) e Joseph Priestley (1733 – 1804) foram cientistas que fizeram diversos progressos na área da química, como a descoberta dos gases hidrogênio e oxigênio, invenção de dispositivos de laboratório e síntese de novas substâncias como óxido nitroso, óxido nítrico e ácido clorídrico. Esses cientistas ainda possuíam ligação com a alquimia, mas em seus trabalhos era possível perceber o afastamento do misticismo e uma racionalização maior dos resultados encontrados.

Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) foi um químico francês que publicou seus trabalhos em 1789 no livro “Traite Elementaire de Chimie”, provocando a queda definitiva da Teoria do Flogisto. Lavoisier estabeleceu a Lei de Conservação das Massas, propondo as primeiras leis ponderais da química. Pelas suas contribuições para o desenvolvimento da química moderna, Lavoisier é considerado como “Pai da Química Moderna”.

A partir dos estudos de Lavoisier, a química passou a ser estudada de forma mais próxima ao que conhecemos hoje, fazendo uso de uma linguagem científica, de pensamento racional e pela busca das respostas através de um método científico e sem ligação ao misticismo, que era muito presente na alquimia.


Novidade na área! Agora o Jornal Momento Químico possui um podcast! Para acessar, é só clicar aqui.

Referências:

ANDRADE NETO, S. A. A.; RAUPP, D.; MOREIRA, M. A. A evolução histórica da linguagem representacional química: uma interpretação baseada na teoria dos campos conceituais.Florianópolis: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2009.

CARVALHO, R. S. Lavoisier e a sistematização da nomenclatura química. São Paulo, 2012.

CAVALLI, T. F. Psicologia alquímica: Receitas antigas para viver num mundo novo. São Paulo: Cultrix, 2005.

EVOLUÇÃO histórica da química. São Paulo: Unesp, 2011.

RESSETTI, Roney. A Alquimia. Curitiba: PUC, 2000.

Um comentário sobre “Alquimia

  1. Parabéns pelo texto. Ficou muito interessante e traz algumas curiosidades. Não deixem de ler!

O que você achou desse artigo?