A alquimia e o ensino de química

No percurso da História da Química, a Alquimia é um episódio muito importante. Dela, o misticismo na busca por uma maneira de transformar metais não nobres em ouro e as tentativas da criação da pedra filosofal foram deixadas de lado e muitas técnicas experimentais e vidrarias persistiram até hoje, como a destilação por exemplo (BELTRAN, 1996). Assim, o professor de química pode utilizar a Alquimia como plano de fundo para a abordagem de diversos temas e enfoques de acordo com seus objetivos de ensino.

Appelt e Guilardi Junior (2016, p.3) utilizaram atividades teatrais com o objetivo de que os alunos “se posicionassem criticamente nos episódios da história das ciências, enfrentassem os problemas – em suas dificuldades relacionadas ao projeto – em diferentes situações de seus cotidianos e desenvolvessem a capacidade de lidar com trabalhos coletivos”. Os participantes foram divididos em grupos, em que cada grupo foi responsável pela produção de um roteiro teatral sobre um tema relacionado a temática, posteriormente, os grupos trocaram essas produções e juntos produziram um roteiro coletivo, bem como, ensaios, definições de figurinos, cenário, iluminação e sonoplastia, essas atividades culminaram na apresentação no auditório municipal. Através de pré e pós teste, verificou-se que as etapas realizadas contribuíram para a formação da criticidade, no aprendizado e no desenvolvimento do conhecimento químico, indicando que o tema Alquimia pode propiciar um momento interdisciplinar entre Arte e o Ensino de Química.

A associação da História com a Filosofia esteve presente no trabalho de Castilho, Fary e Broietti (2016), em que elaboraram atividades experimentais investigativas, abordando o tema Alquimia e Arte e, com isso, promoveram a participação ativa dos alunos na elaboração de hipóteses e na exploração de um destilador simples. Assim, observaram o potencial dessa prática em aguçar o olhar dos alunos para as relações entre os conteúdos científicos abordados em sala de aula e seu cotidiano.

Oliveira (2019) utiliza como subsídio a coletânea Harry Potter da autora J.K. Rowling, uma vez que essa narrativa está no cotidiano dos estudantes e traz referências sobre a Alquimia, como figuras, símbolos e alquimistas famosos. Ainda, traz o retrato oculto das práticas alquímicas que oferece uma oportunidade de reflexão sob a luz da origem da Ciência Química. A coletânea também pode ser usada para estudo da própria Alquimia, como indicam Carvalho e Silva (2003).

Já Cavalcanti e Soares (2006) enxergaram no tema Alquimia um potencial nas narrativas de RPG (Role Playing Game em inglês) para a avaliação de conhecimentos químicos nos alunos, os quais muitas vezes podem se apresentar de forma descontextualizados e fragmentados. Desta forma, as narrativas que são provocadoras de reflexão e raciocínio podem ser importantes ferramentas de diagnósticos das dificuldades dos alunos. Para tal, a turma foi dividida em grupos, facilitando a ambientação nessa modalidade de jogo, a aventura vivida pelos personagens do jogo foi de cunho medieval, inspirada em D & D (Dangeous & Dragon),e os desafios englobavam conteúdos químicos, de forma contextualizada.

Através das práticas mencionadas, é possível observar que a Alquimia é um tema possível de ser utilizado no desenvolvimento de inúmeras habilidades dos alunos, que vai além de uma aprendizagem mecanizada, permitindo uma abordagem interdisciplinar e podendo envolver toda a comunidade escolar. Entretanto, é importante que haja formação continuada dos professores e recursos para que práticas como essas sejam cada vez mais implementadas na sala de aula.


CARVALHO, R. S.; SILVA, A. C. S. Estórias do Harry Potter: um catalisador para o estudo da alquimia. Revista Ponto de Vista, v.5, p. 113, 2016. Disponível em: http://www.locus.ufv.br/bitstream/handle/123456789/21180/artigo.pdf?sequence=1. Acesso em 25 out. 2019.

BELTRAN, M. H. R. Destilação: a arte de “extrair virtudes”. Química Nova na escola, v. 4, p. 24-27, 1996. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/portaldoprofessor/quimica/sbq/QNEsc04/historia.pdf&gt;. Acesso em 25 out. 2019.

APPELT, V. K.; GUILARDI JUNIOR, F. O. O Ensino de Química Através da Arte. Encontro Nacional de Ensino de Química, v. 18, 2016. Disponível em: <http://www.eneq2016.ufsc.br/anais/resumos/R1435-1.pdf&gt;. Acesso em 25 out. 2019.

CAVALCANTI, E. L. D.; SOARES, M. H. F. B.; O RGG como estratégia de problematização e avaliação do conhecimento químico. CONGRESSO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSÃO DA UFG – CONPEEX, 3., 2006, Goiânia. Anais eletrônicos do III Seminário de Pesquisa e Pós-Graduação, Goiânia: UFG, 2006. Disponível em: <https://projetos.extras.ufg.br/conpeex/2006/porta_arquivos/posgraduacao/0397205-EduardoLuizDiasCavalcanti.pdf&gt;. Acesso em 25 out. 2019.

OLIVEIRA, I. M. O uso da literatura no ensino de química por meio dos livros da coletânea de Harry Potter. 2018. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Química) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2018. Disponível em: < https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/25384&gt;. Acesso em 25 out. 2019.

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